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Pelé: os cuidados médicos com o fim da vida
Pelé: os cuidados médicos com o fim da vida 😇
carreira
Pelé foi embora no quarto, rodeado pela família, sem intervenções desnecessárias, com condutas bem realizadas, sem dor (foi sedado aos poucos e na hora certa), com tempo para se despedir de todos, seja pelas videochamadas, seja presencialmente. Foi um processo de morte muito digno, como, infelizmente, nem todos têm.
O Rei parou uma guerra que matou mais de 2 milhões de civis na África, conheceu pessoalmente 3 papas, ganhou 3 Copas do Mundo, fez 1283 gols (quase todos jogando no Santos ou na Seleção), foi pai de 7 filhos, foi o primeiro namorado da Xuxa…
Mas, além de um legado fenomenal dentro e fora dos campos, o Rei deixa para nós, médicos, uma mensagem sobre o lidar com a morte sem tabus, com dignidade para partir desta vida sem dores. Certamente, é isso que nós queremos entregar aos nossos pacientes como profissionais da saúde.
Morte é o fim? ☯️
Independentemente da crença ou religião, a morte não é o fim. Afinal, o processo de deixar a vida é uma oportunidade de revisitar a própria história, lembrando de todos os momentos bons e significativos vividos.
Além disso, a morte é uma oportunidade de permitir, às pessoas que dividiram a vida com o paciente, se despedir e demonstrar gratidão por aquela história que chegou ao capítulo final.
Para que tudo isso aconteça da melhor maneira possível, profissionais de saúde, família e pacientes devem estar em sincronia. O foco é que o paciente tenha suas decisões respeitadas e, muitas vezes, os familiares são porta-vozes da opinião de quem, no final, não consegue expressar sua vontade.
Quebrando tabu 🔨
É como se diz: a única certeza da vida é a morte. De fato, ela virá, independentemente de cor, crença, classe social, profissão… talvez o processo de deixar a vida seja o momento mais democrático de todos, pois, nele, todos se põem diante do desconhecido.
Por ser um momento inevitável que todo o ser humano irá enfrentar, por que deixar de falar sobre a morte? Às vezes, trazer à tona o assunto da finitude, de maneira suave e humana, não é fonte de sofrimento, mas de acalento, tanto para o paciente como para seus familiares e amigos.
Assim, por que não falar mais sobre isso nas faculdades de medicina? Afinal, o médico, em algum momento da carreira, lidará com a morte. Seja direta ou indiretamente. E para lidar com a prática, existe técnica. Há, por exemplo, um passo a passo para comunicar notícias difíceis.
Política pública 📜
O Projeto de Lei 2460/22, criado pela advogada e deputada federal Luísa Canziani, propõe o Programa Nacional de Cuidados Paliativos.
O foco de tal medida é aliviar o sofrimento, melhorar a qualidade de vida e apoiar pacientes com doença em estágio avançado.
Assim, o suporte físico, psicológico, social e espiritual previsto no programa também se aplica aos familiares.
Paliar é humanizar 💰
Paliar vem do latim “pallium” que quer dizer “manto”. Assim, “palliare” significa “cobrir com um manto”. Ou seja, a palavra fala sobre oferecer abrigo, trazer conforto, minimizar o sofrimento, dividir, ofertar algo que é seu para o outro.
Paliar é, acima de tudo, humanizar. É lembrar que o paciente tem uma história. É ter, no momento da morte, um olhar profundo sobre a vida.
Como diz a “oração do cadáver”, que comumente está presente nos laboratórios de anatomia das universidades:
“Lembra-te que este corpo nasceu do amor de duas almas; cresceu embalado pela fé e esperança daquela que em seu seio o agasalhou, sorriu e sonhou os mesmos sonhos das crianças e dos jovens; por certo amou e foi amado e sentiu saudades dos outros que partiram.”
Para aprofundar 🤿
Nós, médicos e estudantes de medicina, não podemos deixar de estudar sobre os cuidados diante de uma enfermidade incurável. Afinal, a morte faz parte da vida, e aprofundar sobre esse processo nos torna profissionais mais humanos e competentes.
Por isso, uma ótima forma de aprendizado são os livros da geriatra especialista em cuidados paliativos, Ana Claudia Quintana Arantes. Em sua obra “A morte é um dia que vale a pena viver”, a autora ensina como lidar com os pacientes nesse momento, citando quais são as principais queixas e medos sobre a morte.
Além disso, no livro “Histórias lindas de morrer”, Ana conta alguns dos relatos mais emocionantes de seus pacientes no momento da morte. Vale destacar que não são obras tristes, mas inspiradoras e edificantes.
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