Saudade ou nostalgia?

transformação | por Gustavo Caetano Giavarini

O ano era 1993. Era um dia normal na vida de Eugene Pauly. De maneira insidiosa, porém, iniciara com prostração, queda do estado geral, déficit neurológico focal leve e febre. Longa história curta; alguns dias de internação, outros em coma; Eugene foi diagnosticado com encefalite viral.

Aos exames?

O vírus destruíra quase inteiramente seu lobo temporal medial, uma área que, à época, acreditava-se ser responsável por toda a tarefa cognitiva: como lembranças do passado e a regulação de algumas emoções. Uma lobectomia viral - quase que cirúrgica.

Como sintomatologia?

Não se lembrava dos dias da semana, nomes de médicos ou enfermeiros. Não tinha memórias das últimas décadas. Ele esquecia de tudo que acontecia e acontecera.

Fazia perguntas, recebia respostas - ficava feliz com as respostas - e as repetia em minutos, ficando feliz - novamente - com as mesmas respostas…

Fora Eugene um homem triste?!

O nosso subconsciente não foi programado para nos deixar tristes.

Repare.

Ele sempre tenta te lembrar das melhores partes do seu passado, quase que como um estímulo “siga assim, meu jovem, você está fazendo certo”.

Repetimos para nós mesmos.

Sim, eu falo de saudade…

E agora eu te pergunto:

Por que nós, ingênuos e saudáveis, repletos de memórias boas e bonitas, tendemos a colocá-las na caixinha da tristeza?

Por definição, a nostalgia é a “saudades de algo, de um estado, de uma forma de existência que se deixou de ter; desejo de voltar ao passado.”

É a armadilha de romantizar a felicidade do passado, com medo de não encontrá-la no futuro.

“Voltar ao passado? Com um futuro brilhante?”

Os períodos difíceis vêm para ressaltar quão bons são os momentos felizes. Pode ser que você não enxergue isso agora…

Eu confesso que tenho saudades da minha curta fase na residência médica.

Mas hoje, consigo elencar só uns 2 ou 3 problemas que me fizeram seguir outro caminho.

Meu subconsciente trabalhou bem. Não sinto nostalgia. Obrigado, Gustavo…

“Eugene quase nunca lembrava que estava sofrendo de amnésia. Sua imagem mental de si mesmo não incluía perda de memória, e já que ele não conseguia se lembrar da lesão, não conseguia conceber que havia algo de errado… Eugene morreu sem memórias, sorrindo e extremamente feliz”.

E você, que tem todas elas.

Em qual caixinha tem colocado as suas memórias felizes?

O seu eu gosta de você.

Confia.

Gustavo Caetano Giavarini é médico de formação. Formou-se em uma renomada instituição (Mackenzie do Paraná), entrou numa residência concorrida (ORL PUC-PR) e decidiu pivotar o caminho tradicional da medicina. Cursou MBA em Gestão, Inovação e Sistemas de Saúde (PUC-RS)

Trabalhou como sub-investigador clínico nas vacinas de Covid-19 e HIV (mentorado pelo então Presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia). Entrou no mercado de Health Techs como consultor médico, ajudou a fundar uma startup e hoje é Gerente Médico no maior plano de saúde de América Latina.

em uma escala de 0 a 10, qual é a probabilidade de você recomendar o amo medicina para um amigo ou colega?

seu feedback é muito importante para que possamos sempre melhorar nossos conteúdos.
1  |  2  |  3  |  4  |  5  |  6  |  7  |  8  |  9  |  10

Faça Login ou Inscrever-se para participar de pesquisas.

Reply

or to participate.