Varíolas, vacinas, o que aprendemos e como chegamos até aqui

transformação | por Gustavo Caetano Giavarini

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Quando em meados de 1800, “aqui era tudo mato”. Macacos, serpentes e acho que alguns gatos. As doenças mais prevalentes eram parasitoses intestinais, doenças carenciais, e algumas doenças transmissíveis (como a tuberculose), que acometiam escravos, indígenas e colonos. O modo de vida era rural. As doenças eram rurais. 

Com a chegada da família real, porém, fugida do confronto com Napoleão Bonaparte, houve uma aceleração no processo de urbanização para atender às necessidades da Corte. E com isso, vieram também as doenças relacionadas às aglomerações e ao convívio social.

- Semelhanças, não?

Neste período, tivemos várias epidemias: principalmente as de febre amarela e varíola.

Parênteses: a varíola é conhecida desde a antiguidade e, já em épocas muito remotas, desenvolveram-se em diversas culturas formas de inoculação do material proveniente das pústulas de variolosos em pessoas sãs, como forma de proteção contra a doença. Muito utilizada na Europa do século XVIII, este procedimento passou a ser conhecido como variolização. A vacina surgiu no final do século XVIII, quando o médico inglês Edward Jenner, a partir da observação do fenômeno de proteção contra a doença adquirido por ordenhadores de vacas, passou a inocular pessoas ainda sãs com líquido proveniente das pústulas de vacas acometidas pela varíola bovina – cowpox.

- E hoje, a preocupação é se “esse negócio de RNA mensageiro vai fazer mal” rsrs 

Para responder a esse quadro, e também poder viver em paz na "new land", o governo imperial iniciou uma reforma nos serviços de saúde. Ainda em 1846, a Junta Vacínica da Corte foi transformada em Instituto Vacínico do Império.

- Sim, tínhamos instituições voltadas às vacinas há quase 200 anos.

A aplicação do produto, então denominado vacina, causava erupções brandas, semelhantes às da varíola, mas protegia contra a doença humana. Fosse hoje, em contexto de Trials, a CRF captaria como “evento adverso leve relacionado ao produto investigacional”, tenho certeza.

Por esse e outros motivos, a vacinação contra a varíola foi alvo de forte resistência de diversos grupos sociais durante o século XIX e início do XX.

- Eram os antivac versão 1819. Mesma ignorância, menos redes sociais.

Em 1900, o governo – agora republicano – criou o Instituto Soroterápico Federal – depois denominado Instituto Oswaldo Cruz –, que deveria produzir vacinas e soros contra doenças epidêmicas (FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz).

Em 1959, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decidiu realizar um programa mundial de erradicação da doença. Então, no início da década de 1980, a varíola tinha sido varrida do planeta, estabelecendo, assim, o primeiro caso de erradicação de uma doença pela vacinação. 🥳 

Referência: Políticas e Sistema de Saúde no Brasil (Giovanella, 2012)